Este é o lugar onde nasce a manhã, o canto mais alto, ateando a leveza do mundo.
Não me peças senão um sonho de crisálida, no sono das tuas palavras que se escoam sobre as minhas pálpebras, a respiração dos corpos dos amantes que se extinguem no instante exacto, folheando a memória do amor, terra e céu unidos.
Este é o canto mais alto, o que não se escuta senão na brancura secretíssima da luz.
Esta manhã há no ar a incrível fragrância das rosas do Paraíso. Nas margens do Eufrates Adão descobre a frescura da água. Uma chuva de ouro cai do céu; é o amor de Zeus. Salta do mar um peixe e um homem de Arigento recordará ter sido esse peixe. Na caverna cujo nome será Altamira uma mão sem cara traça a curva de um lombo de bisonte. A lenta mão de Virgílio acaricia a seda que trouxeram do reino do Imperador Amarelo as caravanas e as naves. O primeiro rouxinol canta na Hungria. Jesus vê na moeda o perfil de César. Pitágoras revela a seus gregos que a forma do tempo é a do círculo. Numa ilha do Oceano os cães de prata perseguem os cervos de outro. Numa bigorna forjam a espada que será fiel a Sigurd. Whitman canta em Manhattan. Homero nasce em sete cidades. Uma donzela acaba de aprisionar o unicórnio branco. Todo o passado volta como uma onda e essas antigas coisas recorrem porque a mulher te beijou.
Jorge Luis Borges
Ao amanhecer nas pautas do fio de luz notas de andorinhas...