segunda-feira, 14 de dezembro de 2009



E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
Manoel de Barros

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Este é o lugar onde nasce a manhã























Este é o lugar onde nasce a manhã,
o canto mais alto,
ateando a leveza do mundo.

Não me peças senão
um sonho de crisálida,
no sono das tuas palavras
que se escoam sobre as minhas
pálpebras, a respiração dos corpos dos amantes
que se extinguem no instante
exacto, folheando a memória
do amor, terra e céu unidos.

Este é o canto mais alto,
o que não se escuta senão
na brancura secretíssima da luz.

Maria João Cantinho

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Hino



Esta manhã
há no ar a incrível fragrância
das rosas do Paraíso.
Nas margens do Eufrates
Adão descobre a frescura da água.
Uma chuva de ouro cai do céu;
é o amor de Zeus.
Salta do mar um peixe
e um homem de Arigento recordará
ter sido esse peixe.
Na caverna cujo nome será Altamira
uma mão sem cara traça a curva
de um lombo de bisonte.
A lenta mão de Virgílio acaricia
a seda que trouxeram
do reino do Imperador Amarelo
as caravanas e as naves.
O primeiro rouxinol canta na Hungria.
Jesus vê na moeda o perfil de César.
Pitágoras revela a seus gregos
que a forma do tempo é a do círculo.
Numa ilha do Oceano
os cães de prata perseguem os cervos
de outro.
Numa bigorna forjam a espada
que será fiel a Sigurd.
Whitman canta em Manhattan.
Homero nasce em sete cidades.
Uma donzela acaba de aprisionar
o unicórnio branco.
Todo o passado volta como uma onda
e essas antigas coisas recorrem
porque a mulher te beijou.

Jorge Luis Borges



















Ao amanhecer
nas pautas do fio de luz
notas de andorinhas...

Delores Pires

segunda-feira, 30 de novembro de 2009













O dia amanheceu gris,
a chuva banha as folhas e flores
sinto o cheiro da terra saciada,
ouço o burburinho dos pássaros nos ninhos
Meus sonhos navegam tão longe...

Nana Pereira

Manhã fria




















Manhã fria,
dormem os pássaros...
folhas caídas ao chão.
Manhã fria
e o sol dorme,
tudo está calmo,em silêncio...
Manhã fria,
coração feliz,
e à noite, teus braços quentes...

Nana Pereira

Manhã de outono

















Dia nasceu,
Festa de Zéfiro
As folhas dançam loucamente
No azul da manhã
Já é outono, o amor se faz
No jardim as poucas flores bocejam
Um beija-flor voa sem parar
Sem intenção, uma canção
Vai ecoando pelo ar
E o sol
Beija meu rosto suavemente
Dia tão lindo!

Nana Pereira

Manhã




I

Mordo-te como a um gomo, e estremeço
de claridade.
Que fresca luz nas mãos do fresco vento!
Que casto azul...Folhagens verdes molham
o sonho ingênuo que ainda agora desço
às cacimbas, às pétalas - vertigem,
euforia,
barro de amanhecer...Mordo-te, cálida,
mordo-te como a um gomo, e transfiguro
a própria vida na explosão do dia.
E é tudo céu e vento e eternidade,
E é tudo um mundo primigênio e puro
a estremecer também de claridade.

II

Flamêo,
não sei que facho em mãos paralisadas.

Manhã das almas,estridente.Um sopro
de claridade
que tudo varre num frescor de lúcida
inocência.
E esses passos do amor na terra cálida,
barro do amanhecer...

Alphonsus de Guimaraens Filho

Receita de olhar
















Nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol

faça do seu olhar imensa caravela

Roseana Murray

Como nascem as manhãs


















O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece.

Flora Figueiredo




















Ao sol da manhã

uma gota de orvalho

precioso diamante.

Matsuo Basho

















Brilho do sol da manhã
perfume suave de rosas
O dia nasceu feliz...

Nana Pereira















Toda a manhã
fui a flor
impaciente
por abrir.

Toda a manhã
fui ardor
do sol
no teu telhado.

Toda a manhã
fui ave
inquieta
no teu jardim.

Toda a manhã
fui ave ou sol ou flor
secretamente
ao pé de ti.

Eugénio de Andrade















É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

Eugenio de Andrade












Mais outra aurora. Como em todas as manhãs,

deparo a beleza do mundo, e não posso agradecer:

há tantas rosas, tantos lábios. Vem minha amiga,

pousa o teu alaúde, os pássaros estão cantando.

Omar Khayyam

Despertar














É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.

Eugénio de Andrade

A uma cerejeira em flor






















Acordar, ser na manhã de Abril
a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira.

Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz, ou o quer que seja;
sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.

Eugénio de Andrade, As mãos e os frutos (1948)



«Existem manhãs em que abrimos a janela e temos a impressão de que o dia nos está esperando.»

Charles Baudelaire

Yellow



ao amanhecer
deitado em meio aos girassóis
comprovou: o sol nasce para todos

André Luís Gabriel

Como nascem as manhãs




















O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça em campo aberto.
Pálpebras cerradas, a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro com a ponta do dedo.
Cai um pingo de luz.
Amanhece.

Flora Figueiredo



Mas eu que sei destas manhãs?

As coisas vêm vão e são tão vãs

como este olhar que ignoro que me olha.

Ruy Belo






















“Não sei quando virá o amanhecer,
então abro todas as portas”.

Emily Dickinson













Olhas o amanhecer,
vives o amanhecer como o único instante
em que o céu é entreaberto segredo de um deus mudo.
Espera: algo vai se revelar e deves estar pronto
para mergulhar teu sonho num poço de luz casta.
O intocado te espera. E amanhece. E te iluminas
como se trincasses com os dentes a polpa do absoluto.

Alphonsus de Guimarães Filho



Manhã cedo, rompe a cantata,
nas árvores de fruto e pela mata.
- Sol, Sol !- trauteiam os pardais,
tordas, melros e verdiais.
- Sol, Sol!- pede o tuinho na balsa
e o auricu que apagou o candil na salsa.

Aquilino Ribeiro