terça-feira, 15 de abril de 2014

domingo, 13 de abril de 2014

Manhã






Alta alvorada. — Os últimos nevoeiros
A luz que nasce levemente espalha;
Move-se o bosque, a selva que farfalha
Cheia da vida dos clarões primeiros.

Da passarada os vôos condoreiros,
Os cantos e o ar que as árvores ramalha
Lembram combate, estrídula batalha
De elementos contrários e altaneiros.

Vozes, trinados, vibrações, rumores
Crescem, vão se fundindo aos esplendores
Da luz que jorra de invisível taça.

E como um rei num galeão do Oriente
O sol põe-se a tocar bizarramente
Fanfarras marciais, trompas de caça.


Cruz e Souza

Inverno






Amanheceu — no topo da colina
Um céu de madrepérola se arqueia
Limpo, lavado, reluzindo — ondeia
O perfume da selva esmeraldina.

Uma luz virginal e cristalina,
Como de um rio a transbordante cheia,
Alaga as terras culturais e arreia
De pingos d'ouro os verdes da campina.

Um sol pagão, de um louro gema d'ovo,
Já tão antigo e quase sempre novo
Surge na frígida estação do inverno.

— Chilreiam muito em árvores frondosas
Pássaros — fulge o orvalho pelas rosas
Como o vigor no espírito moderno.


Cruz e Souza