Este é o lugar onde nasce a manhã, o canto mais alto, ateando a leveza do mundo.
Não me peças senão um sonho de crisálida, no sono das tuas palavras que se escoam sobre as minhas pálpebras, a respiração dos corpos dos amantes que se extinguem no instante exacto, folheando a memória do amor, terra e céu unidos.
Este é o canto mais alto, o que não se escuta senão na brancura secretíssima da luz.
Esta manhã há no ar a incrível fragrância das rosas do Paraíso. Nas margens do Eufrates Adão descobre a frescura da água. Uma chuva de ouro cai do céu; é o amor de Zeus. Salta do mar um peixe e um homem de Arigento recordará ter sido esse peixe. Na caverna cujo nome será Altamira uma mão sem cara traça a curva de um lombo de bisonte. A lenta mão de Virgílio acaricia a seda que trouxeram do reino do Imperador Amarelo as caravanas e as naves. O primeiro rouxinol canta na Hungria. Jesus vê na moeda o perfil de César. Pitágoras revela a seus gregos que a forma do tempo é a do círculo. Numa ilha do Oceano os cães de prata perseguem os cervos de outro. Numa bigorna forjam a espada que será fiel a Sigurd. Whitman canta em Manhattan. Homero nasce em sete cidades. Uma donzela acaba de aprisionar o unicórnio branco. Todo o passado volta como uma onda e essas antigas coisas recorrem porque a mulher te beijou.
Jorge Luis Borges
Ao amanhecer nas pautas do fio de luz notas de andorinhas...
Delores Pires
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
O dia amanheceu gris, a chuva banha as folhas e flores sinto o cheiro da terra saciada, ouço o burburinho dos pássaros nos ninhos Meus sonhos navegam tão longe...
Manhã fria, dormem os pássaros... folhas caídas ao chão. Manhã fria e o sol dorme, tudo está calmo,em silêncio... Manhã fria, coração feliz, e à noite, teus braços quentes...
Dia nasceu, Festa de Zéfiro As folhas dançam loucamente No azul da manhã Já é outono, o amor se faz No jardim as poucas flores bocejam Um beija-flor voa sem parar Sem intenção, uma canção Vai ecoando pelo ar E o sol Beija meu rosto suavemente Dia tão lindo!
Mordo-te como a um gomo, e estremeço de claridade. Que fresca luz nas mãos do fresco vento! Que casto azul...Folhagens verdes molham o sonho ingênuo que ainda agora desço às cacimbas, às pétalas - vertigem, euforia, barro de amanhecer...Mordo-te, cálida, mordo-te como a um gomo, e transfiguro a própria vida na explosão do dia. E é tudo céu e vento e eternidade, E é tudo um mundo primigênio e puro a estremecer também de claridade.
II
Flamêo, não sei que facho em mãos paralisadas.
Manhã das almas,estridente.Um sopro de claridade que tudo varre num frescor de lúcida inocência. E esses passos do amor na terra cálida, barro do amanhecer...
Nas primeiras horas da manhã desamarre o olhar deixe que se derrame sobre todas as coisas belas o mundo é sempre novo e a terra dança e acorda em acordes de sol
O fundo dos olhos da noite guarda silêncios. Esconde na retina a menina que corre descalça em campo aberto. Pálpebras cerradas, a noite emudece. A menina com medo faz um furo no escuro com a ponta do dedo. Cai um pingo de luz. Amanhece.
Flora Figueiredo
Ao sol da manhã
uma gota de orvalho
precioso diamante.
Matsuo Basho
Brilho do sol da manhã perfume suave de rosas O dia nasceu feliz...
Nana Pereira
Toda a manhã fui a flor impaciente por abrir.
Toda a manhã fui ardor do sol no teu telhado.
Toda a manhã fui ave inquieta no teu jardim.
Toda a manhã fui ave ou sol ou flor secretamente ao pé de ti.
É um pássaro, é uma rosa, é o mar que me acorda? Pássaro ou rosa ou mar, tudo é ardor, tudo é amor. Acordar é ser rosa na rosa, canto na ave, água no mar.
O fundo dos olhos da noite guarda silêncios. Esconde na retina a menina que corre descalça em campo aberto. Pálpebras cerradas, a noite emudece. A menina com medo faz um furo no escuro com a ponta do dedo. Cai um pingo de luz. Amanhece.
Flora Figueiredo
Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha.
Ruy Belo
“Não sei quando virá o amanhecer, então abro todas as portas”.
Emily Dickinson
Olhas o amanhecer, vives o amanhecer como o único instante em que o céu é entreaberto segredo de um deus mudo. Espera: algo vai se revelar e deves estar pronto para mergulhar teu sonho num poço de luz casta. O intocado te espera. E amanhece. E te iluminas como se trincasses com os dentes a polpa do absoluto.
Alphonsus de Guimarães Filho
Manhã cedo, rompe a cantata, nas árvores de fruto e pela mata. - Sol, Sol !- trauteiam os pardais, tordas, melros e verdiais. - Sol, Sol!- pede o tuinho na balsa e o auricu que apagou o candil na salsa.